Embora à primeira vista a cena possa parecer comum, ela tem um peso significativo. Em um vídeo de 2023, uma jovem com aparência infantil mostra como “montar a marmita do marido”. O vídeo já conquistou mais de 2 milhões de visualizações no TikTok e está associado à hashtag #casadaaos14, que conta com mais de 200 postagens semelhantes.
Ameaças a Felca revelaram 700 suspeitos
O perfil da jovem, que acumula mais de 190 mil seguidores, retrata uma rotina domaéstica intensa. O conteúdo pode parecer inofensivo, mas especialistas alertam que ele contribui para um fenômeno preocupante, com meninas muito jovens discutindo a vida conjugal.
Presidente Lula sanciona lei para proteger crianças na internet
Em outro perfil, a legenda “mini rotina, casada e grávida aos 14 anos” é acompanhada por hashtags como #cuidandodolar e #donadecasaporamor, apresentando responsabilidades adultas como algo positivo e desejável. Já existem 582 vídeos relacionados à #casadaaos15 e mais de 30 para #casadaos13, todos com narrativas semelhantes.
Diante do aumento de tais publicações, o TikTok removeu alguns vídeos e um dos perfis após ser contactado por uma reportagem do g1, que investigou o fenômeno.
Veja desdobramentos das denúncias feitas por Felca
Segundo a plataforma, esses conteúdos violavam as Diretrizes da Comunidade. Embora não sejam considerados crimes, autoridades destacam que a exposição retratada reforça padrões que romantizam casamentos proibidos pela legislação brasileira.
O assunto ganhou ainda mais relevância após a sanção do ECA Digital, conhecido como PL da Adultização, que estabelece regras mais rígidas para plataformas ao interagir com crianças e adolescentes.
Impacto invisível
A pesquisadora Mariana Zan, do Instituto Alana, declarou ao g1 que esse fenômeno cria uma visão distorcida sobre relacionamentos afetivos. Apesar de a lei proibir o casamento de menores de 16 anos, o ambiente digital transforma situações inadequadas em entretenimento.
Ela enfatiza que esse tipo de conteúdo faz parecer “aceitável ou romântico” aquilo que, na verdade, envolve violência, desigualdade e violações de direitos, além de fortalecer estereótipos de gênero.
Dados numéricos
De acordo com o Censo 2022, 34 mil crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos estão em união conjugal, sendo 77% do total compostas por meninas. Técnicos do IBGE alertam que esses números podem estar superestimados, mas especialistas consideram que eles refletem a realidade do Brasil.
Felca se emociona ao comentar impactos das denúncias
A movimentação de vídeos sobre supostos casamentos sugere um ciclo de validação social, como analisaram pesquisadoras da área. Muitos dos perfis investigados pertencem a adolescentes, mas também foram encontrados perfis geridos por adultos que usam hashtags para atrair visualizações, evidenciando o apelo midiático do tema. Para Zan, essa dinâmica destaca o uso de estratégias para conseguir “likes”, mesmo que isso traga consequências sérias.
Frequentemente, os jovens utilizam as redes sociais para se projetar e buscar reconhecimento. Vale ressaltar que a legislação brasileira considera nulas uniões abaixo de 16 anos.
O ponto crítico: lifestyle, validação e risco
Pesquisas por hashtags levam a vídeos de jovens realizando tarefas domésticas e aconselhando sobre a vida conjugal, com, em alguns casos, apoio familiar. Contudo, há também indícios de relacionamentos com homens mais velhos. Os comentários revelam meninas desejando sair de casa para viver “como casadas”.
Felca faturou alto após as denúncias
Legalmente, a união estável é inaplicável para menores de 16 anos, pois não se coaduna com as diretrizes de proteção integral do ECA. Organizações competentes alertam que casamentos infantis estão relacionados à vulnerabilidade econômica, evasão escolar, gravidez precoce e violência.
O artigo 227 da Constituição ressalta a corresponsabilidade entre Estado, famílias, sociedade e plataformas digitais para proteger crianças e adolescentes em ambientes online.
A discussão se intensificou após a denúncia do influenciador Felca, que expôs casos de adultização atribuídos ao influenciador Hytalo Santos, que foi preso após a repercussão das denúncias e a investigação do Ministério Público.
A pressão social levou à aprovação do ECA Digital, que exige que plataformas conectem contas de menores a responsáveis e removam conteúdos inadequados. A nova legislação abrange qualquer serviço digital acessível a crianças e adolescentes.
Com a crescente viralização de vídeos que idealizam casamentos irregulares, a necessidade de debater a responsabilidade digital torna-se urgente. Tais conteúdos podem aumentar o engajamento, mas também revelam riscos que vão além das redes sociais.
O que diz o Tik Tok
“Os conteúdos compartilhados foram removidos da plataforma por violarem as nossas Diretrizes da Comunidade. Não permitimos mostrar, promover ou se envolver em abuso ou exploração sexual de jovens, incluindo relacionamentos românticos entre um adulto e um jovem.
Dados da aplicação das nossas diretrizes
No Centro de Transparência, publicamos trimestralmente relatórios de moderação. O mais recente, referente ao segundo trimestre de 2025, aponta que 99,1% dos vídeos com violações foram removidos proativamente, e 94,4% deles foram retirados do ar em menos de 24 horas.
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Esse mesmo relatório indica que conteúdos com risco potencial de abuso físico ou sexual de crianças, bem como aqueles com exposição significativa do corpo de menores, tiveram uma taxa de 99,8% de remoção proativa, mesmo sem denúncias.
Dispomos de diretrizes específicas para menores entre 13 e 18 anos
Usuários entre 13 e 18 anos têm configurações específicas para preservar sua segurança e bem-estar, como limite de tempo de tela e restrição de recursos.
As contas de adolescentes no TikTok contam com mais de 50 recursos e configurações projetadas para que possam explorar sua criatividade, se conectar com amigos e aprender de forma segura.
Nossas diretrizes de Segurança e bem-estar dos jovens não permitem acesso a vários conteúdos, incluindo aqueles que contenham comportamentos sexualizados.
Restrições por faixa etária: jovens de 13 a 15 anos não têm seus vídeos recomendados no feed Para Você, e mensagens diretas estão disponíveis apenas para maiores de 16 anos, entre outras configurações de privacidade e segurança de adolescentes.
As contas de menores de idade são definidas como privadas por padrão, e não autorizamos a monetização de suas contas.